Estas sãos histórias narradas no livro "A vida nos FF", a primeira às pag. 65,e a seguite às pag. 59,  com as palavras, grafia, erros e estilo dos narradores naquela época. Os títulos não são  da obra original, sendo usados apenas para ajuda à recuperação.

A VINGANÇA

O "F-1" foi dos tres submarinos aquele em que se deram as cenas de mais comicidade, como se observa nos relatos desses episodios, circumstancia que apresentava talvêz pelo ambiente de bom humor que conseguia manter entre os que nele tiveram a sorte de servir.

Estie fato não era no entretanto peculiar apenas ao "F-1"; no "F-3" como no "F-5", oficiais, sub-oficiais, inferiores e praças, estiveram sempre irmanados pelo mesmo espirito de cordialidade, nunca deixando de existir certo gráo de amizade reciproca entre todos, constituindo como que uma grande familia de gente educada sem se esquecerem de atender aos mais comesinhos preceitos da disciplina militar. Houve, porem, na Flotilha um Chefe que tinha fama, na Marinha, de impertinente e que, mesma na camara, pouco se ria das pilherias que se contavam, quando passadas a bordo do  "F-1". Isto de tal forma exasperava o seu Comandante que passou a vêr em todos os atos de seu superior, um certo "part-pris" contra o seu navio; as decisões nos tiros de torpedos nunca pendiam para seu lado; as suas sugestões julgava-as mal recebidas, enfim, uma serie de presumções baseadas apenas em uma idéa preconcebida e infundada. Dizia-se, a boca pequena, que o "F-3" era o predileto do "seu Chefe" e que para ele convergiam todas as suas preferencias.

O "F-1" nunca tinha tido a satisfação de imergir com esse Chefe até que em certo dia, quasi na hora de largar do Tender, aparecêo ele no porta-ló para, pela primeira vez tomar parte na imersão, levando consigo, todo o seu Estada Maior, para dar mais imponencia á essa visita. Chegado á zona de exercícios, preparado o navio, descem todos pelos agulheiros e é, então, indicado pelo Comandante, o lugar onde deveriam ficar o Comandante da Flotilha e o seu Estado Maior, aquele no 3° compartimento em um incomodo banquinho de lona a boreste bem perto da estação da boia telefonica. Abertos os kingstons, desce vagarosamente o submarino ainda com forte reserva de flutuabilidade positiva, havendo necessidade de ser mandada mais agua aos tanques reguladores que, já quasi atestados, começam a expelir para o interior do compartimento, pelo seu suspiro, todo o ar que neles ainda havia. Mais 100 litros! Mais 50 litros! eram as vozes que se ouviam quando o mecanico das aguas, sem tirar os olhos do nível, avisa que os tanques estão quasi cheios. O Comandante, embora dispuzesse de outro meio para tornar o navio mais pesado preferio, propositalmente, continuar com a mesma manobra, ordenando que deixassem a turbina virando para os reguladores. O efeito não se fêz esperar; pelo suspiro desses tanques, que se achava bem por cima do Chefe, jorra grande quantidade dagua que vai cair, em cheio, em sua cabeça molhando-o completamente. O Chefe não se conteve de raiva; levanta-se bruscamente, sacode a perna, morde a língua, solta uma imprecação impropria para o momento e promete não imergir mais em tal navio. E assim se vingou o Comandante, que exultou de goso !

F.

AR AO "VALVOLÃO"

.....E Abril de 1933, depois de concluir uma grande docagem, fez o "F-1" a sua primeira immersão com o novo Commandante.

.....A immersão foi feita sem incidentes, o navio obedeceu perfeitamente á manobra, navegando em diversas aguas, equilibrado e docil.

.....Depois de ter andado cerca de 2 hs. pelo interior da bahia de Guanabara, quiz o Commandante vir á superfície pelo meio usual de "ar ao valvolão"; feita a manobra, o navio que navegava a 10 metros subiu a cerca de 2 metros e em vez de continuar em ascenção, desceu novamente a 10; deu-se novamente "ar ao valvolão" e assim se fez mais duas vezes e cada vez com maior pressão, mas sempre com o mesmo resultado: o navio tornava á mesma profundidade de dez metros, só se conseguindo que elle puzesse a torreta fora dagua.

.....Suppoz-se haver alguma ruptura de encanamentos ou má vedação do valvolão. Não sendo prudente gastar-se mais ar, porquanto não se previa o tempo que levaria essa immersão, abandonou-se logo a idéa de emergir dando "ar á superstructura", mesmo porque esse meio não offerecia segurança, devido ao máo estado em que ella se encontrava.

.....Lançou-se prudentemente mão das bombas electricas de esgoto dos fundos duplos, procedendo-se assim com toda a cautela, para que não houvesse uma nova avaria, desta vez talvez irremediavel.

.....Para desafogo do Commandante e de sua guarnição, no fim de dez minutos estava o "F-1" na superfície.

.....O pessoal da lancha que fazia a escolta relatou que, quando o navio se aproximava da superficie, uma enorme columna d'agua era projectada a uma altura de mais de 20 metros, assemelhando-se a uma enorme baleia esguichando agua.

.....Na superficie então constatou-se que tal accidente fôra motivado pela entrada, na séde do valvolão, de uma pequena haste de ferro, impedindo a vedação de ar, e por conseguinte o recalcamento da agua para o esgoto dos duplos fundos.

.....E essa foi a estréa do novo Commandante que, logo de inicio, lembrou-se daquellas maximas, mui judiciosas, com que a casa Fiat, termina as suas instrucções: "Precisione e calma sono le doti principali ed indispensabile di un comandante di sommergile! Non accade alcun fenomeno nuovo che non abbia la sua raggione dessere e questa ragione non deve rimanere occulta al comandante; ma egli deve farsi obbligato di recercala. Non fidarsi di chicchessia, tranne che di se sstesso e non aver mai fretta!

C. Taylor

Cap. De Fragata


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