PARTE
I
A SITUAÇÃO
Ter
vocação para grandeza não basta. É preciso fazer acontecer!
No mês de dezembro do ano de 2008 a Marinha Brasileira
firmou vários acordos de cooperação com a França, para a construção de
submarinos convencionais e obtenção de um casco para submarino nuclear.
Muitas críticas e comentários diversos já surgiram,
outros irão surgir. Das críticas, umas serão a favor, outras irão expor
dúvidas, mormente no que diz respeito a se estar criando uma aventura
muito cara.
Os comentários, nas mentes criativas, proliferarão. Isso, de certo modo,
é bom, pois trás a certeza do engajamento cada vez maior, de toda a
sociedade, no problema de modernização de suas forças armadas.
Um fato marcante é que, mais uma vez, por uma série de
circunstancias que não cabe aqui enumerar, iremos ingressar num ciclo de
dependência tecnológica de outro país, por conveniência e decisão de
governo (e não da estratégia naval), com inteira aderência por parte da
Marinha às políticas domésticas, na ilusão de que tal brindará o Poder
Naval do Brasil com a solução que todos os marinheiros sempre almejaram.
Quando soluções navais (aspectos operacionais) são
tomadas dessa forma, embora mascaradas por um pretenso respaldo da
estratégia naval, as conseqüências podem não ser as melhores para o
Brasil. Porém, sob aspectos logísticos, inegavelmente, poderemos colher
resultados compensadores, desde que, tecnicamente estejamos preparados,
ou se nos prepararmos adequadamente.
Os orçamentos militares nesses últimos anos foram
cortados tão substancialmente, que nossa expressão militar regrediu, e
no seu contexto, a Marinha de Guerra. Nesse quadro, uma Estratégia
Nacional de Defesa que contemplasse a modernização da Força teria que
ser, como o foi, auspiciosamente recebida.
A circunstância especial de ter tido origem em elemento
organizacional civil, pela primeira vez, refletindo intenção de governo,
muito embora com forte influência dos militares no poder, na sua
formulação, aumentou ainda mais a esperança de ver as aspirações
resolvidas. Em contrapartida, a responsabilidade pelas decisões irão
recair sobre esses elementos militares.
Parece estar sendo criada uma Marinha sem um núcleo de
elementos navais, a qual não estará consoante com as aspirações
político-estratégicas do Brasil. embora satisfazendo necessidades
específicas, por meio da obtenção de submarinos. Porém, quem pensar que
a arma submarina possa ser a solução para todos os problemas no mar,
pode estar redondamente enganado.
O Poder Naval brasileiro deve ter navios capitais, ou
navios escoltas com capacidade de operar em águas mais distantes do
Atlântico Sul, que apareçam, que tenham capacidade de presença e de
dissuasão, que mostrem a bandeira. Poucos, mas efetivos. Juntamente com
eles, navios de apoio para as diversas finalidades necessárias, como
escoltas, como transporte de tropas, como reabastecimento no mar. Todos,
com elevada prontidão operacional.
Desse modo, quem opta pela dúvida da solução ora adotada,
de fundamentar o Poder Naval unicamente na arma submarina, tem suas
razões. Muitas vezes essas razões não são nem bem percebidas, mas
sentidas, embora tenham fundamentos reais. Outras vezes são nitidamente
percebidas, mas a conveniência as mascara.
Uma das conseqüências do descaso governamental com a
modernização de suas Forças Armadas, não só pela questão do
aparelhamento, mas também, e acima de tudo, pelo descompasso salarial da
classe, vis a vis as demais profissões, tem sido a perda de
pessoal e de capacitação intelectual, o que vai pesar fortemente na
proposta de recomposição de material e dos quadros profissionais.
Porém, não foi só a postura de governo, degradando
material e quadros de pessoal, a responsável pelo gargalo criado.
Falando apenas sobre a Marinha, essa não cuidou de fazer evoluir
intelectualmente seus quadros de pessoal, nos momentos de penúria,
adequando-os para o futuro inevitável, e que ora chega.
Essa é nossa opinião, baseada nas observações
disponíveis. Iremos ingressar no árduo campo de recomposição do Poder
Naval, em circunstâncias em que, no período mais intenso da degradação
dos ativos navais, não se cogitou com muita freqüência, da capacidade
intelectual visando ao preparo (não estamos falando de
configuração do Poder Naval) do Poder Naval, em outras palavras, das
melhores práticas para fazê-lo, e assim nos leva à observação acima, de
que a “força” não se preparou para tal.
Cabe aqui uma explanação sobre tal constatação. Preparar
Poder Naval é uma ação complexa. Passa pela identificação de
necessidades, transformadas em objetivos navais de defesa (hoje temos
como referência a política militar de defesa); passa, em seguida, pela
criação e definição de opções de soluções; o passo seguinte é a seleção
das opções e alocação de recursos, para finalmente implementar-se as
decisões e prover as forças (obtenção dos sistemas de defesa navais). De
um modo geral, são raros os pensadores estratégicos que realizam
análise profunda para chegarem à definição de configuração da força,
enquanto que a maioria, que opina sobre o Poder Naval, sejam militares ou civis,
normalmente se limitam a apresentar uma configuração de força (sem
justificativas mais profundas).
Nesse ponto é que julgamos, e ainda há muito tempo para
tomar medidas corretivas, que há várias oportunidades de aprimoramento
da Marinha. Esse é o fulcro dessa abordagem.
A. PODER
NAVAL – RAZÃO DA EXISTÊNCIA DA MARINHA DE GUERRA.
A1. MARINHA DE GUERRA – CORPO E
ALMA DO PODER NAVAL
Poder
Naval, parcela militar do Poder Marítimo e parcela marítima do Poder
Militar, é o poder preparado e empregado em função dos interesses marítimos relacionados com a economia do país –
tanto a normal, como a decorrente do esforço de guerra – bem como em função
da estratégia militar global, que pode exigir atividades navais não
diretamente vinculadas àqueles interesses. |
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Em
conseqüência, o Poder Naval deve ser dimensionado adequadamente de acordo
com a postura político-estratégica da nação. Por isso, no Brasil, de
inconteste maritimidade (ainda que de dúbia percepção de tal condição), cabe
se estabelecer, além de estratégia marítima que atenda aos objetivos
nacionais permanentes, um Poder Naval apropriadamente dimensionado. Este
Poder deve atender, segundo adequada estratégia naval, aos objetivos
nacionais de defesa que forem estabelecidos.
Por seu
turno (e de interesse particular para a argumentação neste texto),
identificamos como elementos dinâmicos do Poder Naval os navios de
superfície, submarinos, aeronaves e meios anfíbios, inclusive tropa
terrestre, e seus elementos estáticos – as instalações de apoio, comando e
controle.
Corpo do
Poder Naval, esses elementos dinâmicos não prescindem do componente humano,
o qual, pela profissionalização, patriotismo,
competência, responsabilidade e orgulho no exercício de suas
atividades profissionais (forjando inabalável vontade de servir à pátria), moldam a
alma sua alma.
Corpo e alma
do Poder Naval, esses elementos e componentes são reunidos num conjunto
referido
como Marinha de Guerra.
A2. COMO TER UM PODER NAVAL A ALTURA -
O SUSTENTÁCULO É O ELEMENTO HUMANO COMPETENTE, QUE CONSTITUI A BASE
INTELECTUAL NECESSÁRIA
São muitos e
variados os elementos necessários à constituição de um Poder Naval adequado.
Deles destacamos, acima de tudo, a necessidade de conhecimentos que formem a
base para criação da vontade política de o constituir, suficiente bastante
para garantir nossos interesses no mar.
Para tanto
são condicionantes essenciais a inovação (acesso às inovações
tecnológicas e recursos de toda ordem e natureza para sua estruturação), a
qual pode ser viabilizada por meio da obtenção de hardware, de
software e de serviços diversos, conhecidos como Sistemas de Defesa
navais e seus componentes operacionais e de apoio, que irão mobiliar a
Marinha de Guerra.
Desse modo
de pensar deriva nossa conclusão de que o principal elemento impulsionador
da modernização da Marinha (ou qualquer poder militar), na atualidade, é a
inovação.
Relembramos,
por sua relevância, como já mencionado linhas atrás, que tudo isso está
centrado no elemento humano, cujo aporte de capital intelectual é vital para
a consecução das diferentes missões e tarefas navais, usando como
instrumentos os diferentes Sistemas de Defesa navais.
É
necessário, pois, existir um ambiente cultural apropriado, onde se crie
vontade política e persiga-se a obtenção de recursos de toda ordem para
mobiliar a Marinha de Guerra. O principal, enfatizamos, é o ser humano, e
esse com capacidade e vontade de construir o Poder Naval necessário.
A3. OS ELEMENTOS FÍSICOS DO PODER NAVAL
SÃO OS SISTEMAS DE DEFESA NAVAIS E SEU SISTEMA LOGISTICO, NELE COMPREENDIDO
O SISTEMA DE APOIO LOGÍSTICO
Tratando-se
de Marinha de Guerra, os principais elementos visuais do Poder Naval são os
navios de guerra, aí incluídos os navios de superfície e submarinos, e por
essa razão o nosso propósito, neste texto, é abordar o processo de obtenção
desses sistemas, ou super-sistemas, como são, muitas vezes, referidos. Desse
processo decorrem elementos (embora nem todos) para o estabelecimento de uma
configuração apropriada.
O ambiente
em que se desenvolve tal processo é o ambiente da Logística, e tem que se
pautar totalmente pela qualidade, acima de tudo.
Por tais
razões, principalmente, o processo de obtenção de sistemas navais de defesa
pode ser considerado, universalmente, como um dos principais (senão o
principal) processos em curso nas Marinhas de Guerra. Ele é fruto de
cuidadosos estudos de natureza estratégica, que definem, em função de
avaliação conjuntural, a natureza e a quantidade dos elementos dinâmicos
necessários para atender aos objetivos de defesa identificados no nível
nacional. Daí nasce a configuração de meios navais considerada ideal.
Geradores de
elevado consumo de recursos de toda ordem, esses símbolos visuais do Poder
Naval - os navios de guerra - têm que competir, organicamente, com a
necessidade de mais investimentos em bens intangíveis como comunicações,
reconhecimento, vigilância e a coleta de informações estratégicas, e em extras-marinha,
como as imensas necessidades sociais, que pressionam os
governos a despenderem cada vez menos recursos com defesa, segundo
orçamentos cada vez mais apertados, num ambiente em que a tecnologia de ciclos cada vez
mais curtos impõe complexidade crescente aos diferentes sistemas de defesa.
Esse quadro
cíclico reflete a necessidade de aprimoramento contínuo nos processos de
obtenção dos sistemas de defesa, de modo a alcançar o equilíbrio necessário.
Desse modo,
torna-se necessário conhecer, cada vez mais profundamente, sistemáticas de
obtenção usadas por diferentes Marinhas de Guerra, para servirem de
referência de comparação e aperfeiçoamento de nossas práticas, com vistas à
otimização do processo de obtenção em si. Para isso, esse conhecimento é
muito importante.
A4 O design do NAVIO COMO OBRA DE ARTE E COMO
CRIAÇÃO INDUSTRIAL - A CONSTRUÇÃO.
A4.1 GÊNESE DE UM NAVIO - ATIVIDADE QUE
REQUER MUITA TÉCNICA E MUITA ARTE.
Genericamente falando o navio é realmente uma espetacular obra de arte.
Sua concepção e seu desenvolvimento são consequências diretas da aplicação
de muita técnica e de muita criatividade. Somente muitos anos de
experiência e prática no exercício dessas atividades podem agregar ao
engenheiro especializado qualidades e atributos que permitam
classificá-los como arquitetos navais.
Arquitetos navais são, em realidade e acima de tudo, praticantes de
desenho-de-produto. Ou, usando o sinônimo já incorporado em nossa língua,
design
(sugerimos consultar o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa e a
legislação atual do MEC
para
cursos superiores), expressão esta adotada preferencialmente
neste texto, por ser de uso muito difundido, com a principal intenção de
enfatizar sua diferença com relação à palavra projetar.
(A CONTINUAR NO EXEMPLAR 35)
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