A autêntica sabedoria do
homem é o saber que não se sabe. Sócrates (469-399 a.
C.)
A mais recente Revista do Clube Naval (nr. 356
out/nov/dez 2010)
traz bons artigos, que deleitam o leitor. Embora abordando, por
vezes, assuntos complexos, seus autores os tem apresentados de
maneira tão magistral, que a leitura e compreensão se tornam
bastantes agradáveis.
Que bom que assim seja, pois somos nós, os
leitores da querida revista, que lucramos.
Um desses artigos, sob o título DIALÉTICA,
cujo autor é Walter Arnaud Mascarenhas, traz á baila o
"propósito de
mostrar as diversas acepções assumidas pelo termo dialética ao longo
da história da filosofia ocidental, bem como sua grande importância
na busca da verdade."
Na explanação que se segue, o
autor apresenta um
diálogo entre Alcebíades e Sócrates, que, na minha opinião, tem
muito a ver com ponto de vista que defendo há muito tempo, qual
seja, a necessidade de mudar o patamar cultural dos integrantes da
força naval brasileira no sentido de perseguir um referencial de conhecimentos
que, a todos, sirva de ponto comum de partida na busca de soluções de aprimoramento da administração
dos assuntos navais. Muitas vezes, queremos as mesmas coisas, mas
não falamos a mesma linguagem.
Jocosamente, talvez até irreverente,
eu classificava as pessoas, no que diz respeito aos conhecimentos
individuais, em duas grandes categorias - a dos INOCENTES e a dos
IGNORANTES. A compreensão por parte dos leitores e ou dos ouvintes,
com quem me comunicava, sempre me parecia óbvia: Os primeiros nem
sequer sabiam que existia, enquanto que os ignorantes, sabendo que
existia, sabiam o quanto tinham que aprender sobre a coisa.
Até que apareceu o artigo
Dialética e nele o diálogo
apresentado como exemplo, o qual aqui reproduzo, pois me permite
amenizar a pecha de irreverente e eliminar qualquer resquício de
impressão de tentativa de agressão à cultura dos companheiros de caserna,
ao mesmo tempo que parece
explicar melhor a minha tese.
Obrigado, pois à Sócrates, e também ao autor
do artigo. Parabéns Walter Arnaud Mascarenhas!
(O diálogo seguinte é reproduzido com autorização expressa
do Presidente do Clube Naval, por e-mail de 15 de fevereiro
de 2011 às 17:10. Segundo o autor do artigo, a fonte é a obra
"Momentos decisivos do pensamento filosófico", de Luis Washington
Vita; Melhoramentos, São Paulo, 1964, p. 16.)
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O DIÁLOGO "O
RECONHECIMENTO DA IGNORÂNCIA COMO INÍCIO DA SABEDORIA"
Sócrates: Assim, eis um fato certo: quando alguém
ignora uma coisa, a sua alma não pode senão variar de sentimentos.
Alcebíades: Absolutamente certo.
Sócrates: Todavia vejamos: sabes como deves proceder
para escalar o céu?
Alcebíades: Oh! Por Zeus! absolutamente nada.
Sócrates: E sobre esse assunto também o teu juízo
varia?
Alcebíades: Certamente que não.
Sócrates: E sabes por quê? Queres que eu to diga?
Alcebíades: Dize.
Sócrates: É porque o ignoras e não supões sabê-lo.
Alcebíades: Como entendes isso?
Sócrates: Pensemos juntos. Se ignoras uma coisa
e sabes que a ignora, variarás de opinião a seu respeito? Por
exemplo, de culinária, sabes, certamente, que não percebes nada.
Alcebíades: Oh! Sem dúvida.
Sócrates: E pretendes ter a esse respeito opinião
sobre a qual varias? Ou deixas para quem conhece?
Alcebíades: Certamente que deixo.
Sócrates: Ou ainda, se navegasses no mar, decidirias
se convinha voltar ou continuar, e, por não saberes, variarias de
opinião? Ou entregarias esse cuidado ao piloto e ficarias tranquilo?
Alcebíades: Confiar-me-ia ao piloto.
Sócrates: Consequentemente, sobre as coisas que
ignoras, não varias se sabes que as ignoras?
Alcebíades: Não, sem dúvida.
Sócrates: Pois bem. Não vês que os erros de proceder
resultam, também, dessa espécie de ignorância que consiste em crer
que se sabe o que não se sabe?
Alcebíades: Que queres dizer?
Sócrates: Quando empreendemos fazer uma coisa, não é
porque cremos conhecer bem o que fazemos?
Alcebíades: Sim, é.
Sócrates: Quando se julga saber, não se entrega a
outros?
Alcebíades: Certamente.
Sócrates: É assim que os ignorantes desta categoria
evitam enganar-se. Deixam para os outros aquilo que ignoram.
Alcebíades: Está certo.
Sócrates: Quais são, então, os que se enganam?
Certamente que não são os que sabem.
Alcebíades: Não, com certeza.
Sócrates: Então, se não são os que sabem, nem os
ignorantes que sabem que ignoram, não podem ser senão os que creem
saber mas que ignoram?
Alcebíades: Sim, verdadeiramente. São eles.
Sócrates: Eis então, o gênero de ignorância que é a
causa de tudo o que se faz de mal. É esta que é repreensível.
Alcebíades: Sim.
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