ACORDOS ... E
CONSIDERAÇÕES!
Ter vocação para
grandeza não basta. É preciso fazer acontecer!
No dia 23 de dezembro do ano de 2008, na cidade
do Rio de Janeiro, o governo brasileiro firmou vários acordos de
cooperação com a França. Na mesma ocasião os Presidentes dos dois países
adotaram o Plano de Ação da Parceria Estratégica Brasil-França,
lançado em 2005, documento esse que constitui a base para o dialogo e a
cooperação bilateral nos próximos anos.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o encontro
entre os dois Presidentes refletiu a intenção de ambos os governos de
aprofundar o relacionamento bilateral e de acentuar a sua natureza
estratégica, especialmente por meio da cooperação tecnológica em suas
variadas vertentes, de modo a garantir benefícios mútuos e equânimes
para os dois países.
O item III do Plano de Ação – Cooperação na área de
defesa, prevê cooperação privilegiada que abrangerá, entre outros
aspectos
“Os submarinos, com o desenvolvimento e a produção
compartilhada de quatro submarinos do tipo “Scorpène” e a assistência da
França ao desenvolvimento da parte não-nuclear do projeto de submarino a
propulsão nuclear brasileiro, de uma base de submarinos e à construção,
modernização e manutenção de estaleiros.”
Desse propósito, decorreu o Acordo entre os governos da
República Federativa do Brasil e da República Francesa, na área de
submarinos, divulgado na íntegra no site OS SUBMARINOS DO BRASIL!
(Nota 1).
Sobre este acordo muitas críticas e comentários diversos
já surgiram, novos virão.
Das críticas, umas serão positivas, outras irão expor
dúvidas sobre sua viabilidade, em face da crise econômica em que
mergulha o mundo. Alguns pensam se estar criando uma aventura muito
cara. A inserção da França no contexto de uma Indústria de Defesa
Européia (Nota 2) deve ter sido cuidadosamente
pesada, pois a “lealdade” às considerações continentais sobre todo um
processo de fortalecimento daquela Indústria poderá se constituir em
forte óbice para a “chegada” de um país sul-americano, sem relevante
retrospecto nesse tipo de comércio.
Os comentários, na mente criativa de todos, irão
proliferar abundantemente. Isso, em resumo, pode ser bom, pois traz a
certeza do engajamento, cada vez maior, de toda a sociedade, no problema
de modernização de suas Forças Armadas.
Fato marcante, porém, é que mais uma vez, por uma série
de circunstancias que não cabe aqui enumerar, iremos ingressar num ciclo
de dependência tecnológica, por conveniência e decisão de governo (e não
da estratégia naval), com inteira aderência por parte da Marinha de
Guerra às políticas domésticas, na ilusão de que tal brindará o Poder
Naval do Brasil com a solução que todos os marinheiros sempre almejaram.
Quando soluções navais (aspectos operacionais) são
tomadas dessa forma, embora mascaradas por um pretenso respaldo da
estratégia naval, as conseqüências podem não ser as melhores para o
Brasil. Porém, sob aspectos logísticos, inegavelmente, A MB poderá
colher resultados os mais compensadores, desde que, tecnicamente, se
prepare adequadamente para tal.
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Os
orçamentos militares nesses últimos anos foram cortados tão
substancialmente, que nossa expressão militar regrediu, e no seu contexto, a
Marinha de Guerra. Nesse quadro, qualquer Estratégia Nacional de Defesa que
contemplasse a modernização da Força (e talvez só por isso) teria que ser,
como o foi, auspiciosamente recebida, pelo menos no âmbito da caserna.
A
circunstância especial de ter sido elaborada por elemento civil, pela
primeira vez, refletindo intenção de governo, muito embora com forte
influência dos militares no poder, na sua formulação, aumentou ainda mais a
esperança de ver aspirações resolvidas. Em contrapartida, a responsabilidade
pelas decisões cairão pesadamente sobre esses elementos militares.
Parece
estar sendo criada uma Marinha sem um núcleo de elementos navais (navios
capitais), que não estará consoante com a estatura político-estratégica do
Brasil, embora satisfazendo necessidades específicas, por meio da obtenção
de submarinos. Porém, quem pensar que a arma submarina possa ser a solução
para todos os problemas no mar, pode estar redondamente enganado.
O Poder
Naval brasileiro deve ter navios capitais, que apareçam, que tenham
capacidade de presença e de dissuasão, que “mostrem a bandeira”. Poucos, mas
efetivos. Juntamente com eles, navios de apoio para as diversas finalidades
que se fizerem necessárias, como escoltas, como transportes de tropas, como
reabastecedores.
Todos,
incluindo submarinos, precisam ter elevada prontidão operacional.
Desse modo,
quem opta pela dúvida da solução ora adotada, de fundamentar o Poder Naval
unicamente na arma submarina, tem suas razões. Muitas vezes essas razões não
são nem bem percebidas, mas sentidas, embora tenham fundamentos reais.
Outras vezes são nitidamente percebidas, mas a conveniência as mascara.
Uma das
conseqüências do descaso governamental com a modernização das Forças Armadas
brasileiras, não só pela questão do aparelhamento, mas também, e acima de
tudo, pelo descompasso salarial da classe, vis a vis as demais
profissões, foi a perda de pessoal e de capacitação intelectual, o que,
agora, vai pesar fortemente na proposta de recomposição de material e dos
quadros profissionais.
Porém, não
foi só a postura de governo, degradando material e quadros de pessoal, a
responsável pelo gargalo criado. Falando apenas sobre a Marinha (MB), essa
não cuidou de fazer evoluir intelectualmente seus quadros de pessoal, nos
momentos de penúria, adequando-os para o futuro inevitável, e que ora chega.
A MB concentrou-se nas operações, e relegou o preparo do Poder Naval a um
segundo plano.
Essa é
nossa opinião, baseada nas observações disponíveis. A MB irá ingressar no
árduo campo de recomposição do Poder Naval, em circunstâncias em que, no
período mais intenso da degradação dos ativos navais, não cogitou com muita
freqüência da capacitação intelectual visando ao preparo daquele Poder.
Em outras palavras, não cogitou de estudar as melhores práticas para
fazê-lo, e é isso que nos leva à observação acima, de que a “força” não se
preparou adequadamente para tal.
A
identificação dessas "melhores práticas" decorrem das deficiências da
evolução da Logística na Marinha, razão pela qual os artigos que tratam da
Logística, e os deste enfoque, têm íntima vinculação.
Nesse
contexto julgamos, e ainda há muito tempo para tomar as medidas apropriadas,
que há várias oportunidades de aprimoramento da Marinha. Esse é o fulcro
dessa abordagem.
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