Introdução
A globalização tem elevado sobremaneira o nível de
competição entre as empresas, forçando-as a lançar novos produtos em
intervalos cada vez menores.
Desta maneira, torna-se uma questão de sobrevivência a
redução do tempo gasto no ciclo de desenvolvimento de novos produtos,
acrescentando ainda a necessidade de produzí-los com elevada qualidade,
dentro de padrões internacionais e com drástica redução de custo.
A indústria naval se insere nesse contexto de alta
competitividade, tendo um mercado atualmente dominado pelos países
asiáticos, que produzem com rapidez, qualidade e baixo custo, quando
comparados com o restante do mundo.
Os sistemas navais, caracterizam-se por necessitarem, em
geral, de longos ciclos de desenvolvimento. O ciclo de desenvolvimento ou
projeto é, seguramente, um dos mais importantes, se não o mais importante,
determinante (driver) do custo final de um sistema.
A filosofia da Engenharia Simultânea, com seus objetivos
de redução do ciclo de desenvolvimento, garantia da qualidade e diminuição
do custo final, dentre outras teorias, surge como uma alternativa para a
indústria de construção naval do mundo ocidental, que busca competir com
os países asiáticos pelas encomendas que nos últimos anos têm crescido,
devido ao incremento do comércio internacional, como também devido a
expansão da área de offshore.
Definição de Engenharia
Simultânea
Engenharia Simultânea (ES), ou mais modernamente,
Desenvolvimento Integrado de Produto e Processo (Integrated Product and
Process Development - IPPD) é uma filosofia que na verdade envolve
mais do que Engenharia. No início o objetivo era o projeto simultâneo do
produto e dos respectivos processos de manufatura. O objetivo cresceu
passando a incluir todas as etapas do ciclo de vida do produto, desde a
sua concepção até a sua retirada de serviço, sua destinação final, após
transcorridos seu período de vida útil (BENNETT; LAMB, 1995).
Assim como o "Just-in-Time", a Engenharia Simultânea é
uma filosofia e não uma tecnologia. Engenharia Simultânea usa tecnologia
para atingir seus objetivos (BENNETT; LAMB, 1995).
O principal objetivo da Engenharia Simultânea ou
Desenvolvimento Integrado de Produto e Processo é a diminuição do tempo
desde o pedido até a entrega, para um novo produto, com custo mais baixo e
maior qualidade. Isto é alcançado através do desenvolvimento
paralelo, ao invés de seqüencial, das diferentes etapas que compõem o
Projeto do Produto, com o emprego de times ou equipes multidisciplinares
("cross-functional teams") (BENNETT; LAMB, 1995). Segundo Syan
(1994), estes times devem conter pessoas de vários departamentos da
empresa, como mostrado na figura 1, incluindo os principais fornecedores e
clientes.

Figura 1 - Composição de um time de
desenvolvimento multidisciplinar - Baseada em Syan (1994)
Entre as várias definições de Engenharia Simultânea
pode-se citar a do "Institute of Defense Analysis" (IDA) dos E.U.A.
(BENNETT; LAMB, 1995):
"Engenharia Simultânea é uma abordagem sistemática para
o projeto integrado e concorrente de produtos e de seus processos
relacionados, incluindo manufatura e suporte. Esta abordagem intenciona
provocar que os desenvolvedores, desde o início, considerem todos os
elementos envolvidos no ciclo de vida do produto desde a sua concepção
até o seu descarte, fim de sua vida útil, incluindo qualidade, custo,
prazos e os requisitos dos clientes" (WINNER et al.,
1988).
A definição do "Concurrent Engineering Research Center"
(CERC).
"Engenharia Simultânea é uma abordagem sistemática para
o desenvolvimento integrado de um produto e os processos relacionados,
que enfatiza a responsabilidade para com as expectativas do consumidor e
incorpora os valores de cooperação dos times, confiança e
compartilhamento, de uma maneira tal que a tomada de decisões se
processa com largos intervalos de trabalho paralelo, englobando todas as
perspectivas do ciclo de vida do produto, de uma maneira sincronizada,
por meio de diálogo para obtenção de consenso" (CERC,
1992).
Como visto acima, idealmente, a Engenharia Simultânea
envolve todos os participantes no desenvolvimento do produto, incluindo o
cliente e os fornecedores, em um ambiente de time, desde o início e ao
longo do projeto do produto e dos processos relacionados.
Conceitos básicos da Engenharia Simultânea já eram
aplicados por empresas ocidentais no início dos anos 80, no entanto, a
primeira definição formal, apresentada acima, surgiu com o trabalho de
Winner et al. (1988). A abordagem tem sido usada por muitas companhias, em
vários países. A experiência tem mostrado, que, se aplicada de maneira
adequada levará ao atingimento dos objetivos citados nas definições acima
(BENNETT; LAMB, 1995).
Método tradicional (seqüencial) de
desenvolvimento de produtos versus a abordagem de Engenharia
Simultânea
O processo tradicional ou seqüencial de desenvolvimento
de produtos, também conhecido pela expressão em inglês "over the
fence" ou "over the wall", que significa "sobre a cerca" ou
"sobre o muro", é baseado na organização departamental, o que não favorece
a integração entre as unidades funcionais, uma vez que cada departamento
ou setor responsável por determinada etapa do projeto, trabalhando
estanque ou independente dos demais, tende a preocupar-se somente com suas
atividades específicas, e não existe um responsável pelo desenvolvimento
como um todo. A figura 2 apresenta um exemplo de desenvolvimento
seqüencial.

Figura 2 - Exemplo de desenvolvimento
seqüencial de produtos
As etapas de desenvolvimento apresentadas na figura 2 são
apresentadas à seguir: as duas primeiras fases – desenvolvimento do
conceito e planejamento do produto – incluem informações de oportunidades
de mercado, possibilidades técnicas, e requisitos da produção que devem
ser combinados para se definir a arquitetura do novo produto. Isto inclui
seu projeto conceitual, mercado alvo, necessidades em investimentos e
viabilidade econômica. Para a aprovação do programa de desenvolvimento do
produto, o conceito deve ser validado através de testes e discussão com
potenciais clientes.
Uma vez aprovado, o projeto entra na fase detalhamento da
engenharia de produto e processo. Esta fase envolve o desenvolvimento do
projeto, a construção de protótipos e o desenvolvimento de ferramentas e
equipamentos a serem utilizados na produção em larga escala. O
detalhamento de engenharia envolve o ciclo "projetar – construir –
testar". Os produtos e processos gerados no conceito são incorporados em
um "modelo de trabalho", que é submetido a testes que simulam o produto em
uso. Caso ocorram problemas, alterações são buscadas e implementadas de
modo a melhorar o projeto, e o ciclo "projetar – construir – testar" é
repetido, até atingir a maturidade necessária para início da produção
piloto. A conclusão desta fase de detalhamento da engenharia é marcada
pela liberação da versão final, que indica que o projeto está pronto para
iniciar uma produção piloto.
Na fase de produção piloto os componentes individuais são
construídos e testados os meios de produção. Durante esta fase, são
produzidas muitas unidades do produto com o objetivo de testar os planos
de processo nos níveis de produção comercial. A conclusão desta fase
indica que todo o ferramental e equipamentos estão prontos, incluindo os
fornecedores de peças/equipamentos, estando assim o produto pronto para
início da produção comercial.
A fase final do desenvolvimento é o aumento da produção.
Isso envolve o refinamento do processo de produção, que deve ser testado
para operar com um alto nível de produção. Nesse momento, a empresa inicia
a produção em um nível relativamente baixo, e assim que a organização e
seus fornecedores desenvolvem confiança em sua capacidade de produção e
comercialização, vai-se aumentando seu volume até atingir as metas
planejadas de produção, custo e qualidade.
Um departamento ao executar a etapa que lhe corresponde,
"passa adiante", ou "joga sobre a cerca ou muro" (over the wall),
para o próximo departamento, os documentos e/ou desenhos gerados, para que
seja dada continuidade aos mesmos.
O início de uma etapa está condicionado à conclusão de
uma etapa anterior, tendo como conseqüência o fato de que qualquer
problema encontrado em alguma etapa do projeto, irá provocar um retorno à
etapas anteriores, ocasionando atrasos na conclusão do projeto.
As diferentes visões descritivas, utilizadas pelas várias
unidades organizacionais envolvidas no desenvolvimento, resultam em bases
de dados independentes, separadas em vários sistemas e plataformas de
hardware, conforme apresentado na figura 3.
A descrição geométrica do produto, por exemplo, é
armazenada na base de dados do sistema CAD, enquanto que a estrutura de
produto e os planos de processo macro, gerados em uma fase posterior, são
armazenados na base de dados do sistema de planejamento da produção.

Figura 3 - Fragmentação dos dados de produto
no desenvolvimento seqüencial (ZANCUL, 2000)
A abordagem da Engenharia Simultânea é focada em três
preocupações: a integração antecipada e coordenada entre as áreas de
conhecimento relevantes ao desenvolvimento de produtos, organização da
equipe sob o prisma de multidisciplinaridade e dedicação integral ao
projeto e, enfoque sobre as necessidades do cliente. Esta abordagem busca
alcançar os seguintes objetivos: menor tempo de desenvolvimento do
produto; menor custo; e aumento da qualidade do produto final.
O paralelismo (simultaneidade) na execução
das etapas de desenvolvimento de produtos ocupa uma posição de destaque no
contexto da Engenharia Simultânea, uma vez que é fundamental na redução do
ciclo de desenvolvimento de produtos, reduzindo desta maneira o
time-to-market (tempo transcorrido desde a detecção da necessidade,
até a introdução de um novo produto no mercado) o que constitui uma
importante vantagem competitiva. Para tal é vital que haja a integração
entre áreas de conhecimento, mediante a constituição de equipes
multidisciplinares (figura1).
O paralelismo (simultaneidade) bem como a integração,
entre as diversas áreas envolvidas nas etapas de desenvolvimento é
representado na figura 4.

Figura 4
- Desenvolvimento Simultâneo
(paralelo e integrado) do
Produto
A estratégia de simultaneidade, com o emprego de equipes
multidisciplinares, fornece uma oportunidade para tratar antecipadamente,
no processo de desenvolvimento, de fontes de conflitos entre agentes do
desenvolvimento, que representam os pontos de vista de diferentes áreas:
projeto do produto, marketing, fabricação, logística, operação,
etc.
O
custo tende a
ser reduzido
sobremaneira,
principalmente
devido à participação do
pessoal de produção nas
equipes multidisciplinares,
desde o
início do
desenvolvimento, de
modo
que participando no
desenvolvimento, contribuem
para
que,
quando da
fabricação,
não seja detectada a
necessidade de
correções no
projeto (reprojetos),
que ocasionam
não
só
atrasos no
lançamento de
produtos,
que representam
elevado
custo
em
um
mercado competitivo,
como
também evitam os
elevados
custos
que representam as alterações
de projeto,
que aumentam drasticamente à
medida
que o
projeto se aproxima da
etapa de produção, pois
quanto
mais próximo desta
etapa,
maior é a quantidade de
itens integrados, e
conseqüentemente
maior é a quantidade de
interfaces
que necessitam de
revisão
em
função de alterações a serem
introduzidas.
A
figura 5 apresenta o custo de alterações ao longo do desenvolvimento, comparando a abordagem de desenvolvimento serial e a abordagem de Engenharia Simultânea. Esta figura mostra que a Engenharia Simultânea, com o emprego das equipes multidisciplinares de
projeto, busca concentrar o maior número de alterações na
etapa de concepção, onde o custo é muito baixo, ao contrário da abordagem tradicional
(serial), que concentra elevado número de alterações na
etapa de desenvolvimento de produto e de processo, quando o custo é bem mais elevado. A abordagem tradicional apresenta
ainda grande número de alterações na
fase de produção/operação, onde o custo é extremamente alto, ao contrário da ES que apresenta número bastante reduzido de alterações nesta
etapa.
Figura 5 - Custo das alterações
de projeto,
Baseada em OUSD,
1998.
A participação do cliente (armador na indústria naval)
nas equipes multidisciplinares, desde o início, é importante na medida em
que permite um perfeito entendimento, por parte da equipe
multidisciplinar, dos requisitos que o produto deve satisfazer, bem como o
cliente pode ser assessorado com relação a requisitos conflitantes, que
possam trazer como conseqüência degradação na operação do produto final,
ocasionando insatisfação por parte do mesmo. Deste modo, esse entendimento
provoca, desde o início, um desenvolvimento contínuo, sob uma estrutura
sólida (requisitos do produto), perfeitamente compreendida e edificada à
“quatro mãos”.
Na aplicação da Engenharia Simultânea é
fundamental que as equipes multidisciplinares de projeto “ataquem” todos
os aspectos do desenvolvimento de forma paralela e concorrente, em
contraste com o processo tradicional (over the wall), resultando com isso
na necessidade imperiosa de maior integração entre os dados do produto.
Tais informações devem estar localizadas em uma base de dados única,
conforme mostrado na figura 6, ao invés de se encontrarem fragmentadas,
como no caso do desenvolvimento seqüencial (mostrado na figura 3). A
integração das
informações do
produto, mostrada na
figura 6, permite
que todos os
membros da equipe tenham
acesso a
informações atualizadas e
comuns a todos,
facilitando o processo
decisório e diminuindo os
riscos de
decisões baseadas
em informações
desatualizadas.
Figura 6 Integração dos dados do produto par
apoiar a Engenharia Simultânea.
A
abordagem da
Engenharia
Simultânea conduz a
melhores
projetos, que
buscam atender
perfeitamente os
requisitos dos
clientes
(armadores na
indústria
naval); com
aumento da qualidade e da
confiabilidade, além de
propiciar à alta
gerência e aos
gerentes de
projeto um
melhor controle
dos custos envolvidos.
Estas
vantagens podem ser quantificadas
com os dados constantes da tabela I.
Tabela I Resultados obtidos pela implementação da
Engenharia Simultânea |
Tempo de desenvolvimento do
projeto |
30 a 70% de redução |
Alterações do Projeto e
Retrabalho |
65 a 90% de redução |
Tempo de lançamento do produto |
20 a 90% de redução |
Qualidade Total do Produto |
200 a 600% de melhoria |
Produtividade |
20 a 110% de melhoria |
Retorno sobre vendas (dollar
sales) |
5 a 50% de
melhoria |
Tabela I –
Resultados obtidos
pela
implementação da
Engenharia
Simultânea (CARTER; BAKER,
1992); e (HARTLEY, 1992)
Engenharia
Simultânea na
Indústria
Naval
O projeto de um sistema naval (navio ou plataforma oceânica), caracteriza-se
por longos ciclos de desenvolvimento e de construção (“produção”). Embora a utilização de dados de “navios semelhantes” seja uma metodologia extensivamente utilizada nas fases iniciais de projeto, contribuindo para reduzir o ciclo de desenvolvimento, é na fase de detalhamento, que antecede a construção, que ocorre uma grande quantidade de consumo de tempo dentro do ciclo de projeto, devido a grande quantidade, dimensões e complexidade de subsistemas, como por exemplo uma praça-de-máquinas,
que compõem os sistemas navais.
A
etapa de construção passou
por um
importante
desenvolvimento,
que foi a
introdução da construção
modular, onde o
navio é dividido
por blocos
ou seções,
ocorrendo a construção e
montagem de
equipamentos,
sistemas e
itens, em
cada bloco
(outfitting), de maneira
totalmente independente dos
demais, permitindo
diminuição
sensível do
tempo de construção e
flexibilidade à produção do
estaleiro. As figuras 7 e 8 exemplificam o
processo tradicional de construção e o
processo moderno de “produção” de
navios.

Figura 7
Processo tradicional de construção

Figura 8
Processo moderno de construção
Tendo a
etapa de construção sido
desenvolvida,
com a introdução
da construção modular,
resta ainda a
busca de redução do
ciclo de
desenvolvimento
(projeto), sendo
então o emprego
da ES um meio de
atingir tal
objetivo. A ES
não só contribui
para a redução do ciclo de
projeto, como
certamente o seu
emprego resulta
em uma redução
ainda maior do
ciclo de construção,
pois como citado
anteriormente, a utilização
de equipes multidisciplinares de
projeto, com a
participação, fundamental, de
pessoal da produção,
resultará em
projetos com uma
grande redução da necessidade de alterações, detectadas,
em geral, na etapa de construção e que provocam re-projetos,
que por sua vez, levam a atrasos e altos custos.
A ES,
como citado anteriormente, utiliza tecnologias (ferramentas) para alcançar seus objetivos, como por exemplo: CAD, CAE, CAM, PDM, Simulação e 3D Product
Model.
O 3D Product
Model é responsável pela integração das informações do produto, conforme mostrado na
figura 6, servindo
como único banco de dados para a o emprego de CAD, CAE, CAM, Simulação e
concentrando ainda todos as informações logísticas do projeto. Deste modo todos os integrantes das equipes multidisciplinares têm
acesso e usam às mesmas
informações, evitando uso de informações desatualizadas,
que concorrem para erros e atrasos no projeto. O controle de todas as
informações do Product Model, é realizada
através se softwares do tipo PDM (Product Data
Management).
Exemplo de
aplicação da Engenharia
Simultânea na
Indústria
Naval
Segundo Winner
(2002); Winner (2000) a necessidade, do
pós guerra-fria, de reduzir
drasticamente o custo de
seus submarinos
nucleares, levou o
estaleiro americano Electric
Boat e a Marinha
Americana, a buscar uma
maneira de torná-los
viáveis. O Electric Boat reconheceu
que os custos de
construção e de operação
são quase
totalmente
determinados
durante o
desenvolvimento.
Com isso o
estaleiro, com
total apoio e participação
da Marinha, decidiu empregar
a ES no programa da
mais nova
classe de submarinos
nucleares de ataque dos
E.U.A, cujo primeiro
navio,“Virgínia”, será lançado
em 2004.
Segundo Poitras (1997), a meta de custo para a classe "Virgínia" é de que os navios tenham custo igual ou inferior à classe 688I, anterior a classe "Seawolf", que atualmente é o mais moderno submarino da Marinha Americana. Esta meta de redução de custo, no entanto, não foi acompanhada de degradação dos principais requisitos de projeto, já que, por exemplo, foram mantidos para o “Virgínia” os requisitos de assinatura acústica, extremamente rigorosos, do “Seawolf”, o que tornou bem mais difícil a tarefa de projetar o navio.
Para
execução do
projeto, o navio
foi dividido em quinze
grandes áreas
contíguas, cada
qual com uma
equipe multidisciplinar de
projeto,
conforme mostrado na
figura 9.
Figura 9 Quinze equipes multidisciplinares de
grandes áreas.
Cada
equipe
multidisciplinar, possui representantes da
Marinha
(cliente) e do
estaleiro, sendo
composta de
engenheiros, projetistas,
fornecedores, representantes da
área de
logística e
responsáveis pelo
controle de
custo. Dentre os
projetistas encontram-se operadores de CAD
para arranjo,
redes,
estruturas,
eletricidade, e
mecânica.
A estrutura organizacional adotada para o projeto foi a matricial, sendo que as decisões acerca do projeto couberam às equipes multidisciplinares,
que possuem total autoridade e liberdade para a tomada de decisão (“empowerment”). A
tomada de decisão saiu da esfera dos departamentos funcionais, que a detinham no processo tradicional, cabendo aos
mesmos, na abordagem de ES adotada, fornecer mão-de-obra especializada para as equipes multidisciplinares, bem como executar o que foi decidido pelas equipes. Há de se ressaltar que tal mudança além de partir da alta administração do estaleiro, com apoio da Marinha, teve permanentemente o total apoio da mesma.
Alguns resultados, referentes ao programa, são mostrados à seguir.
Segundo Winner (2002) o
projeto do "Virgínia" está sendo completado,
e a construção está avançando
com poucos
problemas. A
figura 10 mostra
a situação atual
do projeto, com
dados de 2002,
em relação ao
que foi planejado. A
Marinha afirma
que a curva
apresentada na figura, mostrando
tão pequena
distorção em
relação ao planejado
em 1993, nunca
havia sido vista
em um
programa de um
submarino antes
do "Virgínia" (WINNER, 2002).

Figura
10 Situação atual do Projeto x Planejado
É
importante que
seja salientado, segundo Winner (2002),
que os desenhos
prontificados, representados pela
curva da figura
10 são muito
mais completos,
possuindo mais
dados, e necessitaram de
muito menos
revisões do que
àqueles produzidos para o
"Seawolf" (submarino
mais moderno
em operação
atualmente).
A
figura 11,
mostra que no
projeto do "Virgínia",
apesar de serem produzidos
mais desenhos
que no projeto
do "Seawolf", a prontificação dos mesmos,
em relação ao
início da construção
(marco 0), ocorreu
em média, 2.5
anos antes do
que no projeto
do "Seawolf". Sendo que
em Fevereiro de
2002 já havia sido concluído 99.1% do
total, aproximadamente 3.5
anos antes do
"Seawolf" atingir a mesma
marca. O número
de homens-hora (HH) necessário para
construir o "Virgínia", primeiro
navio da classe, foi
reduzido em 40%,
em relação ao
"Seawolf".

Figura
11 Planos e Desenhos
Segundo Winner (2002) os
problemas identificados,
durante a construção, têm
sido em número
bem menor e
muito menos
sérios do que no
caso do "Seawolf''. A
figura 12 mostra
que em
janeiro de 2002, 3.2
anos após o
início da construção, haviam
sido identificados 5.300 problemas.
Com uma fração
da quantidade de HH requerida para a
construção, o navio
já havia alcançado
quase 70% do
total. O "Seawolf"
não alcançou o
mesmo nível
antes de quase
seis anos. Nesse
estágio da obra,
os construtores do "Seawolf" já haviam
identificado aproximadamente 53.700
problemas. Deste
modo, a redução de
erros, em
estágio equivalente da
construção, é de aproximadamente 90%.

Figura
12 Problemas durante a construção: Virginia x
Seawolf
A
implantação da ES possibilitou
um projeto
muito mais
maduro que
proveu suporte à construção.
A figura 13
mostra que 50%
do projeto do “Virgínia”
já havia sido completado,
quando do início
da construção, comparado com
5.6% do “Seawolf” e 1.6% do “Ohio” (submarino
lançador de mísseis balísticos). A pior
projeção para o
número de alterações de
projeto, detectadas
durante a construção,
para o “Virgínia”, é de
apenas 30% do
total do “Seawolf” e 36% do
total do “Ohio”.

Figura
13 Maturidade do Projeto
Uma das
conseqüências
fundamentais da ES é
que, com o
desenvolvimento integrado do
produto e processo
(construção), através do
emprego das
equipes multidisciplinares, o
projeto é concebido e conduzido de
tal maneira
que poucas alterações ocorram nas
etapas finais do
mesmo
(maturidade), permitindo
que os
requisitos de
projeto, bem
como o contrato
para construção, sofram
um número
extremamente
pequeno de alterações ao
longo do ciclo
de desenvolvimento e
construção, o que
certamente conduz à redução de
custos. A figura
14 mostra que
projeções
pessimistas em
relação ao
número de alterações contratuais
para o “Virgínia” são da
ordem de 12% das alterações contratuais do
“Seawolf” e apenas 0.46% das do “Ohio”.

Figura 14 Alterações
contratuais do "Virginia" (2002) e projeções para 2004
Conclusão
Os dados recentes (2002), apresentados acima, acerca da implantação da Engenharia Simultânea no projeto da mais nova classe de submarino nuclear da Marinha Americana, mostram claramente que a ES tem sido fundamental no sucesso do projeto, implementada como um meio de sobrevivência, tanto para
o estaleiro quanto para
o programa de submarinos da Marinha Americana.
A diminuição do tempo de desenvolvimento do navio, e a drástica redução da necessidade de alterações de projeto, dentre outros fatores, levaram à grande redução de custo, tornando o projeto viável economicamente. Isto foi obtido por meio da participação de representantes da
produção, do cliente (Marinha) e de fornecedores, nas equipes multidisciplinares, desde o início do projeto, bem
como pelo
emprego de modernas ferramentas, citadas no trabalho, principalmente do 3D Product Model.
Estes resultados certamente fortificam a justificativa para
aplicação da Engenharia Simultânea em futuros projetos, como um meio de sobrevivência da indústria naval ocidental na sua competição frente aos estaleiros asiáticos.
No momento em que crescem as encomendas mundiais na indústria naval, principalmente na área de offshore, a indústria naval brasileira, que no momento, passa por um aparente processo de ressurgimento, após
longo período de estagnação, deve aprofundar os estudos visando a aplicação da Engenharia Simultânea bem
como da tecnologia de construção modular, tentando deste modo se modernizar, diminuindo o gap existente
entre a nossa indústria e aquelas que se utilizam das melhores práticas (best practices),
semelhantemente ao processo de modernização que atualmente está em curso na indústria naval americana.
***
|